Costura, como praticamente toda atividade manual, é algo que se evolui com a prática. Quando falamos em costura histórica falamos na junção de pesquisa e confecção, a produção de um traje depende das duas. Durante uma conversa com a
Pauline e
Luiza resolvemos fazer um antes e depois, mostrando a evolução nos trajes usados em eventos revivalistas e recriação histórica.
Mas ao invés de colocar uma foto do meu primeiro e do ultimo traje, resolvi comparar coisas afim, destacando alguns trajes com uma breve reflexão dos pontos que mudei ao longo dos anos. No texto também linkei alguns posts relacionados aos trajes que menciono, caso queiram ver algum de forma mais detalhada.
Primeira incursão na moda histórica e revivalismo: 2011 x 2017
Meu primeiro evento revivalista foi o II Picnic Vitoriano, em 2011. Eu ainda não tinha como fazer um traje de época então resolvi usar lolita. Misturei elementos da moda com alguns elementos vitorianos: camafeu, luvas, e...bem, acabam por aí os aspectos históricos. O cuidado com cabelo e maquiagem também era praticamente inexistente. Não é um outfit que eu repetiria, apesar de ainda gostar muito de algumas peças dele... Acho que faltou um cuidado maior com detalhes, trazendo mais das referências que eu queria mostrar.
Na minha segunda tentativa de adaptar moda histórica para lolita, em 2017, acredito que me saí melhor. Ao invés de acrescentar acessórios, dessa vez adaptei
elementos do rococó (o vestido aberto na frente, o peitilho, anágua, as mangas 3/4 com babados) à silhueta da moda lolita, com a saia armada e na altura do joelho. O cabelo e maquiagem também foram inspirados no século XVIII, apesar de eu não estar tão preocupada com acuidade histórica nessa parte. Eu adorei o resultado final, amo as fotos desse dia e eu só mudaria o decote do vestido que ficou profundo demais e um tanto desconfortável.
Experiências em moldes históricos e reproduções de vestidos vitorianos: 2012 x 2015
Fotos por Mitsuo Yamamoto e Mau Kisner, respectivamente
O primeiro traje histórico que fiz foi esse de
Rainha Vitória, que usei em 2012. Foi o primeiro documentado aqui no blog e o primeiro que eu pesquisei a fundo pra reproduzir, o que levou meses. Fiquei bem satisfeita com o resultado, e orgulhosa também porque envolveu a aprendizagem de várias técnicas que até então eu não tinha usado. Tive ajuda de colegas mais experientes que me deram dicas, indicações de loja e até mesmo scan de livros de história.
Depois desse fiz inúmeros trajes vitorianos, mas gostaria de destacar
esse que fiz em 2015, por ser de uma época próxima. Aqui eu também repliquei um traje, dessa vez com uma escolha de modelagem mais ousada. Ainda assim, foi uma peça que fiz sem mock-ups e terminei em poucos dias. Já estava familiarizada com penteados da época então não tive tanta dificuldade nisso também. Escolhi esse traje para mostrar que muitas vezes evolução não necessariamente significa um traje mais suntuoso, mas sim se familiarizar com técnicas e conseguir fazer algo com facilidade.
Improvisos com peças disponíveis vs concluir um traje: 2014 x 2017
Fotos por Mitsuo e Mara Sop, respectivamente
Esse primeiro é um dos trajes que eu mais detesto, argh! Evento marcado (em 2014) e eu não tive tempo de terminar o vestido, então improvisei com uma chemise longa, um robe (sim, o mesmo do meu
traje de chá vitoriano) e uma fita abaixo do busto. Eu também não gostei do meu penteado, era a primeira vez que eu tentava fazer esses cachos usados no império. Como cereja do bolo, o dia estava chuvoso e eu mega desanimada pra fotos.
O último foi
esse, em 2017 também. Eu não tenho muito o que dizer sobre além de que dessa vez eu realmente fiz um traje completo.
Roupa de baixo, vestido, e depois ainda coloquei um
spencer que eu já tinha em meu acervo por ter feito pra um traje anterior. A vantagem de focar num recorte histórico é que as você pode ir recombinando peças e formar trajes novos sem precisar investir em um kit completo. Eu também aprendi a testar os penteados que quero usar antes do dia do evento, o que ajuda muito no resultado final.
Eu adoro
esse traje que fiz em 2016, e representa como ao longo dos anos fui conseguindo fazer trajes cada vez mais realistas, o design também fui eu que criei, e não apenas tentei reproduzir algum figurino ou tela como costumava fazer no início.
Para concluir, queria dizer que o aprendizado não é exatamente linear, é feito de auto e baixos e mesmo que você domine alguma área ou técnica, aprender algo novo sempre envolverá erros. Aquela velha máxima de que a 'a prática leva à perfeição' é bem real e a parte boa é que quanto mais você praticar, melhor vai ficar em algo. Gostei de ir separando exemplos e destacar alguns trajes que mostrassem em imagens o que quero dizer.
Espero que eu tenha conseguido passar essa mensagem e adoraria que esse post inspirasse os que gostariam de iniciar nesse campo mas estão na dúvida se vão conseguir atingir expectativas logo de primeira. Adianto que provavelmente não, mas com certeza é uma jornada divertida. Nesses 7 anos foquei muito em século XVIII e XIX até me sentir segura reproduzindo essa época, mas agora já me sinto confortável pra explorar outras épocas, silhuetas e técnicas. De uma certa forma, costura histórica é uma forma de explorar o passado, traduzir pesquisas em objetos tangíveis. O meu lado nerd também gosta de considerar uma forma de viajar no tempo, haha.