quinta-feira, 31 de maio de 2018

Livro: O lar da Srta Peregrine para crianças peculiares

    Voltando com as resenhas de livros, o comentado dessa vez será O lar da Srta Peregrine para crianças peculiares, escrito por Ranson Riggs e lançado em 2011. Talvez a escolha pareça um tanto off-topic para o blog por ser uma fantasia juvenil, mas ele envolve algumas coisas que eu adoro: fotografias antigas e um quê de horror muito interessante.



"Era como se a constância da vida deles ali, os dias sem mudanças, aquele verão perpétuo e imortal, tivesse prendido suas emoções como fizera com seus corpos, selando-os em juventude como Peter Pan e seus Meninos Perdidos." 

     A história é contada a partir do ponto de vista de Jacob Portman, um garoto americano de 16 anos que vem de uma família abastada. Seu avô tinha uma coleção de fotos excêntricas e sempre contava várias histórias sobre crianças com habilidades sobrenaturais que viviam sobre a tutela de uma mulher que podia controlar o tempo e se transformar em ave. Apesar de fantasiosas Jacob sempre acreditou nessas histórias, por mais que isso causasse conflitos com seus pais .

   Até que seu avô é morto de uma forma brutal, e Jacob vê que o culpado foi uma criatura monstruosa (que depois descobrimos ser um etéreo, seres sobrenaturais que foram corrompidos), todos acham que Jacob está louco e ele começa a se consultar com uma psiquiátra, que sugere como forma de tratamento que ele vá até a ilha da qual seu avô falava, para poder confrontar a realidade com a fantasia e começar a aceitar melhor a morte de seu avô. 

     O que acontece quando Jacob chega a essa ilha é justamente o contrário, ele descobre que o Lar da Srta Peregrine é real e passa então a se envolver cada vez mais com seus moradores, o que inclui enfrentar inimigos em comum.

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    Ranson Riggs leva o conceito de livro ilustrado para outro nível. Em O lar da Srta Peregrine para crianças peculiares as imagens são tão importantes quanto o texto. O autor costurou uma história em volta das fotos curiosas que ia encontrando. Boa parte são de sua coleção pessoal e as imagens são autênticas, e saber disso me causou um impacto ainda maior.

    A leitura é bem envolvente, realmente é daqueles livros difíceis de largar. A narrativa muitas vezes pende pro horror, com essa clima de mistério e sobrenatural envolvendo as fotografias e alguns personagens. A obra é considerada como dark fantasy.

Cidade dos Etéreos e Biblioteca de Almas

"Não tem a ver com destino. Acho que existe um equilíbrio no mundo, e as vezes forças que não compreendemos intervêm, botando mais peso no lado certo da balança."

    No segundo livro somos imergidos ainda mais no mundo dos peculiares, e podemos acompanhar também o desenvolvimento de vários personagens. O ritmo é mais rápido pela busca que Jacob precisa fazer junto de seus amigos. 

    Apesar de ter me decepcionado um pouco com o fato de as fotografias no terceiro livro não serem tão protagonistas, ainda assim considero um ótimo livro! Minha única ressalva é o fato de eu ter tido a impressão de que o autor optou por algumas soluções 'fáceis' para que seus personagens conseguissem lidar com os conflitos do clímax, de qualquer maneira, fiquei bem satisfeita com o desfecho.


    O lar da Srta Peregrine para crianças peculiares é uma série que assim que você termina de ler sente saudades dos personagens. Para mim o seu maior triunfo é essa experiência de leitura incrível. É uma coleção bem singular e eu confesso que achei bem marcante. 

     Espero que tenham gostado do post e se interessado pelos livros! 

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Muito antes da Vogue: as primeiras publicações de moda

Vogue, 1930s

    Hoje é possível encontrar uma infinidade de revistas dedicadas a falar sobre moda, seguimentadas por estilo, idade, geografia...as opções são inúmeras. Estão disponíveis em bancas de jornais, livrarias e até mesmo na internet. Mas como elas surgiram? Quais foram as primeiras? Como se popularizaram? Nesse artigo trago uma breve história das publicações de moda.

O início das publicações de moda: 


The Ladies Mercury. 1697

    As primeiras revistas de moda apareceram nas décadas de 1770 e 1780. Como a Lady's Magazine, um almanaque de novidades dedicado a damas que apresentava ilustrações de moda a partir de 1770 e a Journal dex Luxus und der Moden, que surgiu na década seguinte. Anterior a isso houveram outras tentativas também no século XVIII: a Courrier  des Nouvellistes (1728) e a Journal du Gôut, em 1768, que não eram periódicos regulares. Em 1785 surge o O Cabinet des Modes, com gravuras em cores e o Journal de la Mode du Goût, que depois passou a se chamar Journal  des Modes Nouvelles Françaises et Anglaises e foi famoso em toda a Europa, publicado até 1793.

    Até então as novidades sobre moda eram apresentadas em revistas de assuntos gerais como a The Ladies Mercury, no século XVII. Ela era como um spin-off do The Athenian Mercury e foi a primeira divulgação direcionada especificamente para mulheres, ficando em circulação apenas durante quatro semanas. Era escrita por um homem e falava sobre casamento, vestimenta entre outros assuntos, tudo em em duas laudas de texto.
Edição de Journal de La Mode du Goût de 1790

    Usar a moda como propaganda política não é uma novidade, e durante a revolução francesa publicações passaram a sugerir uma moda para os revolucionários. O próprio Journal de la Mode du Goût sugeria que as mulheres usassem as cores da bandeira da frança em suas roupas, para demonstrar patriotismo. 

As fashion plates:



Galerie des  Modes et Costumes Français

    O que ficou muito popular em revistas de moda são as fashion plates, ilustrações demonstrando os estilos, detalhes e materiais que estavam em voga. Essas ilustrações eram trocadas entre amigas e levadas em costureiras para serem reproduzidas. Facilitavam o acesso das mulheres de classe média e trabalhadora às novidades em relação à vestimenta, o que fez com que fosse mais rápido acompanhar as mudanças na moda.

    Ao longo do século XVIII vários ilustradores se especializam em registrar a moda, como Gravelot, Moreau le Jeune, Desrais, Le Clerc entre outros. Essas ilustrações eram publicadas em revistas, que até então não contavam com a fotografia. Nessa área, a Galerie des  Modes et Costumes Français era uma referência, com uma série de 500 fashion plates ilustrando a moda entre 1778 e 1787.

O crescimento das revistas:

      A partir de 1815 as publicações de moda se multiplicam e vários outros nomes começam a surgir e consequentemente as mudanças em silhueta passaram a ser cada vez mais frequentes, já que temos aí a consolidação do sistema da moda como conhecemos hoje.

    No século XIX as revistas femininas tiveram um papel importante, visto que auxiliavam na educação das mulheres. Uma revista expressiva nos Estados Unidos era a Godey's Lady's Books, publicada de 1830 a 1878, que era a mais popular na época. Bem conhecida por suas fashion plates coloridas, a revista também apresentava moldes para as mulheres reproduzirem os vestidos em casa.

Englishwoman's Domestic Magazine

    Havia também a Englishwoman's Domestic Magazine, direcionada a mulheres de classe média que faziam a maior parte de seus afazeres domésticos. Com colunas sobre culinária, animais de estimação e, principalmente, moda. A partir de 1860 as edições vinham com ilustrações coloridas e moldes.

    A Ladies Magazine, publicada entre 1828 e 1837 foi a primeira revista a ter uma mulher como editora, a Sarah Josepha Hale, mulher influente na época. Revistas de moda masculinas surgiram somente em 1920, coma  Der Herr, revista alemã. 

Da era vitoriana ao presente, revistas que viajaram no tempo: 

    Das revistas que ainda estão em circulação, podemos citar a Hapers Bazaar. Iniciada em 1867, se descrevia como "Um receptáculo de moda, deleite e instrução", e seguindo o padrão da época também publicava literatura, tendo em suas edições textos de Charles Dickens, Henry James entre outros grandes escritores. 


     Provavelmente a revista de moda mais conhecida no mundo, a Vogue teve sua primeira publicação em 1892 nos Estados Unidos, e durante a I Guerra Mundial passa a ser impressa na Europa, com uma edição inglesa e francesa nos anos seguintes. A ascensão da Vogue durante o século XX daria um post inteiro, mas basta dizer que hoje é uma das revistas que mais influenciam o mercado da moda e apresenta grandes profissionais da área. 

    Publicações de moda da época são uma boa fonte de pesquisa sobre moda e estilo de vida das mulheres. Muitas delas podem ser encontrada em sites com publicações em domínio público, como o Archive.org e o Google Books. Mas é necessário levar em consideração que os modelos apresentados ali são idealizados e não necessariamente representam a realidade, da mesmas forma que as revistas atuais contém propostas de tendência mas não são um retrato fiel do que é usado nas ruas. Ainda assim, são ferramentas bem interessantes para estudar história da moda e sua relação com os costumes da época. 

Bibliografia: 

História da moda no ocidente, François Boucher
Moda: uma filosofia, Lars Svendsen
Journal de la mode et du Gôut (1790)
The American Ladie's Magazine (1828)
A Modista do Desterro: A moda na revolução francesa
Atelier Nostalgia: Inspiration - Journal de la mode et du goût
Hapers Bazaar: History of Hapers Bazaar
The Guardian: Zeal and softness
Vogue: History
Wikipedia: The Ladies Mercury