sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Marcas brasileiras de lingerie artesanal: Satinè e Description

    Eu tenho um grande apreço por marcas artesanais, principalmente no que diz respeito a moda. Adoro ter uma peça feita especialmente pra mim, exclusiva ou sob medida. No mercado nacional temos pessoas talentosíssimas e marcas incríveis, e decidi compartilhar algumas que gosto muito, com um breve review sobre os produtos. Hoje, vou falar sobre duas marcas de lingerie artesanal: Satinè e Description. A intenção não é fazer uma comparação entre as duas, mas sim apresentar duas marcas que experimentei e gostei. Bem, começando: 

Satiné
    Satiné é um ateliê que trabalha com lingeries feitas sob encomendas e que podem ser personalizadas. A marca foi criada em 2011 e está situada em São Paulo. 

    À frente da marca está Marcela Marques, que cuida tanto da confecção quanto do atendimento.

Produtos:

A maravilhosa da Sarah fotografada pela Carolina Sakuma

    O catálogo é divido em duas partes: modelos disponíveis e rendas disponíveis. As peças são feitas sob medida e os álbuns são atualizados de forma constante. Além disso, existe a opção de pedir um modelo novo, entrando em contato com a página.

Vaniis Lima, foto por Cris Santoro 

    Por ter essa combinação de materiais e modelos, cada peça acaba sendo única, e a marca preza pelo aspecto artesanal de cada uma delas.

Renata Poppe usando uma camisola da marca

    Pra mim o grande destaque da marca são reproduções de modelos vintages, que eu particularmente acho um charme. Mas o catálogo é bem variado, com peças mais românticas e delicadas até outras mais ousadas e sensuais. Também existem algumas peças de roupa que são produzidas pela marca.


Feedback e review:

    Da Satiné eu comprei uma das peças que estavam à pronta entrega (por vezes a marca faz uma venda de peças do catálogo). Sobre o envio, apesar de bem embalada, senti falta de uma embalagem de plástico pra proteger a peça, caso o pacote molhasse. Mas sobre a peça em si: ela é ainda mais bonita pessoalmente e eu fiquei completamente surpresa e encantada com o fato dela vir com uma essência, achei algo bem especial. 

Description 


Nanny Xavier, fotografada por Bárbara Tagliati

    A Description é uma marca criada em 2017 mas não se engane pelo pouco tempo, ela já tem muita história e produtos interessantes! O foco são lingeries sob medida, prezando pelo conforto da cliente. As peças são feitas por encomenda a partir das coleções que são lançadas pela Description, mas também é possível entrar em contato com a página e encomendar peças exclusivas.

"Lingerie é a primeira peça que vai em contato com a sua pele então é importante que ela esteja perfeita em você, que ela esteja linda"

Por trás da marca está a Bárbara Tagliati, que é quem atende as clientes, desenvolve e fotografa as coleções, costura e até mesmo coloca nos correios as encomendas. Bárbara também trabalha com fotografia, com foco em ensaios conceituais.

Produtos:

Larissa na coleção Horror's Divas

Diferente do que vemos no fastfashion, com coleções de produtos com uma grande rotatividade, temos aqui coleções temáticas e com um conceito bem definido.

Da primeira coleção da marca, foto também pela Bárbara

    No catálogo das marcas vocês verão muitas rendas, transparências, e referências retrôs e dark. Os materiais são de qualidade (com o uso de veludo e rendas importadas, por exemplo) e modelos bem pensados e que fogem do comum.


    Eu recomendo super acompanhar também o stories da Description, lá a Bárbara mantém as clientes atualizadas não só sobre as produção das peças mas também outras questões relacionadas a lingerie, body positive, pesquisas de opinião...eu particularmente considero bem informativo.

Feedback e Review:

    Da Description eu encomendei um conjunto de calcinha e sutiã. Em primeiro lugar eu destacaria o atendimento excelente, a Bárbara é super atenciosa e disposta a tirar dúvidas. Não havia ainda na página um sutiã combinando com a calcinha que escolhi mas mandando uma mensagem ela me mostrou opções do que poderia ser feito. A peça veio super bem costurada e bem embalada. A modelagem me serviu perfeitamente, o que torna a peça incrivelmente confortável. A questão do conforto não é só propaganda, rs. Eu só sou meio ansiosa e senti falta de ser atualizada em relação a prazos e andamento da confecção de uma forma mais pessoal, mas além do prazo dado no email a Bárbara acaba sempre postando avisos sobre como andam os prazos no stories da marca.

    Essas são as marcas que apresento hoje! Espero que tenham gostado desse formato, apresentando mais a marcas ao fazer um review. A ideia é trazer mais algumas que gosto e acho que tem uma proposta bacana. 

sábado, 20 de janeiro de 2018

Moda: uma filosofia. Notas sobre história, identidade e consumo.

    Unir moda e filosofia parece estranho num primeiro momento, mas afinal porque não? Moda é um campo interessantíssimo e seu estudo pode fazer com a gente reflita sobre diversos assuntos, mesmo que a princípio eles pareçam distantes. Sendo assim, compartilho aqui algumas anotações e pontos importantes de Moda: uma filosofia, escrito por Lars Svendsen.


"Uma compreensão da moda deveria contribuir, portanto, para uma compreensão de nós mesmos e da nossa maneira de agir." p.7

    O estudo da moda por si só não é suficiente para entender o mundo, claro. Ainda assim, esse é um assunto que muitas vezes deixado de lado por estudiosos por ser considerado algo fútil, relacionado apenas a um consumismo vazio. 

    Mas apesar disso, as roupas são uma parte vital da construção social do eu, à medida que a identidade também é algo que você escolhe como consumidor, e seu estudo pode contribuir muito na nossa compreensão de como a sociedade funciona. 

Afinal o que é moda?

    Antes do renascimento, o vestuário não mudava com muita ao longo dos anos, ricos e pobres usavam roupas semelhantes e a diferenciação ocorria mais por meio dos ornamentos. Então o que temos é o que teóricos chamam de indumentária. É a partir do renascimento, com o desenvolvimento do comércio que detalhes como decotes, tecidos e e ornamentos começam a mudar com frequência e sem razão aparente. A silhueta não mais acompanhava o formato do corpo e a partir daí que surge o que hoje chamamos de moda. 

 "A moda só se configura quando a mudança é buscada por si mesma, e ocorre de maneira relativamente frequente." p.24 

Sobre identidade:  

    Existe um vínculo muito forte entre moda e identidade, elas fazem parte da construção do 'eu'. Nossas roupas reescrevem nosso corpo e grande parte nossa percepção sobre uma pessoa depende do que a está cobrindo.

    Moda não se aplica apenas às roupas, ela é um mecanismo social aplicado a diversas áreas, sendo que usamos moda como sinônimo daquilo que está sendo amplamente usado e, principalmente, daquilo que é passageiro. 

    "A moda é irracional no sentido de que busca a mudança pela mudança, não para 'aperfeiçoar' o objeto, tornando-o, por exemplo, mais funcional." p.30 Estas muitas vezes são superficiais como o número de botões em um paletó, comprimentos de saia, uma cor... é o apelo da mudança pela mudança. Certamente existem roupas que possuem significado para grupos específicos onde os membros são capazes de identificar os códigos, mas essa não é a regra. Também podemos afirmar que nossas escolhas em consumo também constituem parte da nossa identidade. 

Relação entre identidade e consumo:

"O capitalismo só pode funcionar enquanto o consumidor continuar comprando novos produtos, e o consumidor romântico depende de um influxo constante desses novos produtos porque nenhum deles satisfaz o seu desejo." p.131 

    É praticamente impossível medir a quantidade de mercadorias em circulação e o quanto o consumo está presente em nossa vida. Estamos a todo tempo consumindo serviços e mercadorias para satisfazer nossos desejos e necessidades. Moda é uma área que está diretamente ligada ao consumo , mas para que possamos consumir uma peça de roupa existe antes uma cadeia extensa, que engloba desde a plantação de fibras, indústria química e têxtil, confecção, e estratégias de marketing e publicidade para vendê-la. E poucas áreas focam tanto em encantar o cliente e estimular o consumo quanto moda.

    No entanto, o consumo também está ligado à expressão da individualidade. Não é como se a indústria da moda ditasse de forma universal o que será consumido e usado, os consumidores finais aprovam e desaprovam propostas e compram o que lhes agrada. "Nunca foi verdade que os consumidores simplesmente se permitem ser comandados pela indústria da moda" p.133. Mesmo aqueles que escolhem deliberadamente usar coisas tidas como 'fora de moda' estão sob sua influência, pelo simples fato de nega-las. 

    Acredito ser inegável não apenas a influência da moda em nossas vidas, mas como sua relação com o consumo constitui uma parcela expressiva do mercado e economia. Algo tão presente na nossa vida e cotidiano é digno de atenção, não? Pensando nisso resolvi trazer pro blog textos que tratem a moda não apenas de um ponto de vista histórico, como de costume, mas falando sobre aspectos variados que considero interessantes.

    Espero que tenha sido interessante para vocês também. Apenas pontuei algumas das coisas ditas por Lars, mas o livro inteiro é interessantíssimo e super recomendo a leitura. 

Referências:

SVENDSEN, Lars. Moda: uma filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Fazendo uma Chemise à la Reine (1780s)

Modelo e inspiração


     Para o VII Picnic Vitoriano, que aconteceu em Julho de 2017 (é, faz tempo mesmo,rs) eu decidi fazer um Chemise à la reine, modelo que Maria Antonieta popularizou quando procurava um estilo de vida mais bucólico. Mais confortável e prático que os vestidos usados na corte, chocou a sociedade da época por lembrar as roupas de baixo. 


    Achei que seria uma boa ideia pra usar em um picnic e me inspirei em modelos da década de 1780.

Molde e corte


    O molde desenvolvido pela Norah Waugh foi a minha maior referência, e o tracei diretamente no tecido. 


    Para marcar a cava, aproveitei um molde de camisa que eu já tinha pronto para fazer um gabarito, um truque que é bem prático.

Construção

 
    Por ser basicamente uma peça única, a costura é simples. A chemise é aberta na frente e franzida por cordões que passam por canaletas feitas em fitas de cetim costuradas no vestido. Utilizei a mesma técnica nas mangas, que foram costuradas por último assim como o babado dos ombros.


    O babado do decote também é franzido por fitas e para dar acabamento na barra eu queimei com vela (o que funciona em tecidos sintéticos como o voal que eu estava usando). Algo que me ajudou muito na construção foram tutoriais e outros posts que fui encontrando, é uma peça amplamente documentada por outras pessoas blogosfera afora. Caso você deseje fazer uma também recomendo dar uma olhada nos links ao final desse post, vão ser bem úteis.


    A chemise é uma peça que pela quantidade excessiva de tecido parece errada e desengonçada conforme você vai costurando, mas que tem um efeito belíssimo no corpo depois de pronta.


    O sash (a faixa na cintura) eu fiz utilizando uma técnica semelhante à que usei no swiss waist, com barbatanas e uma estrutura rígida para manter o franzido no lugar. Não é historicamente correto, mas o resultado é uma peça que você não precisa ficar ajeitando no lugar durante o evento, e pra mim praticidade vem antes da acuidade histórica.

Underwear e acessórios

    Como o vestido é completamente transparente, usei uma chemise longa como forro por cima da chemise e do stays. Optei por não usar bolsos ou bumpads, e acabei esquecendo de fotografar a roupa de baixo.



Fotos por Rose Steinmetz e Gaby Vieira , respectivamente (recortadas)

    De acessórios, além do sash usei bijuterias genéricas pra compor o visual de forma discreta apenas, rs. Para a gargantilha utilizei a mesma fita de veludo que usei para os laços da manga, com um pingente de flor de lis. O penteado que usei também foi simples e baixo, seguindo a mesma proposta do resto do traje que era algo casual e confortável de se usar em um picnic.

Resultado



Fotos por Cleusa Vargas

  Fiquei bem satisfeita com o resultado! Não sei se mudaria alguma coisa na construção. Definitivamente estou mais satisfeita que meu primeiro traje dessa mesma época, mas dessa vez concluí que realmente branco não é minha cor, investirei em outras cores nos próximos trajes.

    Esse post acabou saindo mega atrasado mas espero que tenham gostado!

Principais referências

Before the automobile: 1780s chemise à la reine 
Diários Anacrônicos (o post saiu do ar)
Fresh Frippery: Easy chemise dress
Koshka the cat: A chemise à la reine 
The Scandalous sisterhood: And suddenly...progress!
A evolução da Indumentária, Marie Louise Nery
The cut of women's clothes 1600-1900, Norah Waugh