segunda-feira, 28 de maio de 2018

Muito antes da Vogue: as primeiras publicações de moda

Vogue, 1930s

    Hoje é possível encontrar uma infinidade de revistas dedicadas a falar sobre moda, seguimentadas por estilo, idade, geografia...as opções são inúmeras. Estão disponíveis em bancas de jornais, livrarias e até mesmo na internet. Mas como elas surgiram? Quais foram as primeiras? Como se popularizaram? Nesse artigo trago uma breve história das publicações de moda.

O início das publicações de moda: 


The Ladies Mercury. 1697

    As primeiras revistas de moda apareceram nas décadas de 1770 e 1780. Como a Lady's Magazine, um almanaque de novidades dedicado a damas que apresentava ilustrações de moda a partir de 1770 e a Journal dex Luxus und der Moden, que surgiu na década seguinte. Anterior a isso houveram outras tentativas também no século XVIII: a Courrier  des Nouvellistes (1728) e a Journal du Gôut, em 1768, que não eram periódicos regulares. Em 1785 surge o O Cabinet des Modes, com gravuras em cores e o Journal de la Mode du Goût, que depois passou a se chamar Journal  des Modes Nouvelles Françaises et Anglaises e foi famoso em toda a Europa, publicado até 1793.

    Até então as novidades sobre moda eram apresentadas em revistas de assuntos gerais como a The Ladies Mercury, no século XVII. Ela era como um spin-off do The Athenian Mercury e foi a primeira divulgação direcionada especificamente para mulheres, ficando em circulação apenas durante quatro semanas. Era escrita por um homem e falava sobre casamento, vestimenta entre outros assuntos, tudo em em duas laudas de texto.
Edição de Journal de La Mode du Goût de 1790

    Usar a moda como propaganda política não é uma novidade, e durante a revolução francesa publicações passaram a sugerir uma moda para os revolucionários. O próprio Journal de la Mode du Goût sugeria que as mulheres usassem as cores da bandeira da frança em suas roupas, para demonstrar patriotismo. 

As fashion plates:



Galerie des  Modes et Costumes Français

    O que ficou muito popular em revistas de moda são as fashion plates, ilustrações demonstrando os estilos, detalhes e materiais que estavam em voga. Essas ilustrações eram trocadas entre amigas e levadas em costureiras para serem reproduzidas. Facilitavam o acesso das mulheres de classe média e trabalhadora às novidades em relação à vestimenta, o que fez com que fosse mais rápido acompanhar as mudanças na moda.

    Ao longo do século XVIII vários ilustradores se especializam em registrar a moda, como Gravelot, Moreau le Jeune, Desrais, Le Clerc entre outros. Essas ilustrações eram publicadas em revistas, que até então não contavam com a fotografia. Nessa área, a Galerie des  Modes et Costumes Français era uma referência, com uma série de 500 fashion plates ilustrando a moda entre 1778 e 1787.

O crescimento das revistas:

      A partir de 1815 as publicações de moda se multiplicam e vários outros nomes começam a surgir e consequentemente as mudanças em silhueta passaram a ser cada vez mais frequentes, já que temos aí a consolidação do sistema da moda como conhecemos hoje.

    No século XIX as revistas femininas tiveram um papel importante, visto que auxiliavam na educação das mulheres. Uma revista expressiva nos Estados Unidos era a Godey's Lady's Books, publicada de 1830 a 1878, que era a mais popular na época. Bem conhecida por suas fashion plates coloridas, a revista também apresentava moldes para as mulheres reproduzirem os vestidos em casa.

Englishwoman's Domestic Magazine

    Havia também a Englishwoman's Domestic Magazine, direcionada a mulheres de classe média que faziam a maior parte de seus afazeres domésticos. Com colunas sobre culinária, animais de estimação e, principalmente, moda. A partir de 1860 as edições vinham com ilustrações coloridas e moldes.

    A Ladies Magazine, publicada entre 1828 e 1837 foi a primeira revista a ter uma mulher como editora, a Sarah Josepha Hale, mulher influente na época. Revistas de moda masculinas surgiram somente em 1920, coma  Der Herr, revista alemã. 

Da era vitoriana ao presente, revistas que viajaram no tempo: 

    Das revistas que ainda estão em circulação, podemos citar a Hapers Bazaar. Iniciada em 1867, se descrevia como "Um receptáculo de moda, deleite e instrução", e seguindo o padrão da época também publicava literatura, tendo em suas edições textos de Charles Dickens, Henry James entre outros grandes escritores. 


     Provavelmente a revista de moda mais conhecida no mundo, a Vogue teve sua primeira publicação em 1892 nos Estados Unidos, e durante a I Guerra Mundial passa a ser impressa na Europa, com uma edição inglesa e francesa nos anos seguintes. A ascensão da Vogue durante o século XX daria um post inteiro, mas basta dizer que hoje é uma das revistas que mais influenciam o mercado da moda e apresenta grandes profissionais da área. 

    Publicações de moda da época são uma boa fonte de pesquisa sobre moda e estilo de vida das mulheres. Muitas delas podem ser encontrada em sites com publicações em domínio público, como o Archive.org e o Google Books. Mas é necessário levar em consideração que os modelos apresentados ali são idealizados e não necessariamente representam a realidade, da mesmas forma que as revistas atuais contém propostas de tendência mas não são um retrato fiel do que é usado nas ruas. Ainda assim, são ferramentas bem interessantes para estudar história da moda e sua relação com os costumes da época. 

Bibliografia: 

História da moda no ocidente, François Boucher
Moda: uma filosofia, Lars Svendsen
Journal de la mode et du Gôut (1790)
The American Ladie's Magazine (1828)
A Modista do Desterro: A moda na revolução francesa
Atelier Nostalgia: Inspiration - Journal de la mode et du goût
Hapers Bazaar: History of Hapers Bazaar
The Guardian: Zeal and softness
Vogue: History
Wikipedia: The Ladies Mercury

Um comentário:

  1. Muito interessante ver as revistas que já completaram 100 anos de vida.
    Fiquei encucada de como seria um homem antigamente sendo diretor de uma revista de moda feminina. Coisas que a gente vê que está enraizada a tempos e espero que seja mudado.
    Como sempre, adorei o texto.
    Beijos.

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